About Me - Milton Laene Araujo

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Lake Worth, Florida, United States
My name is Milton and I am a reader. I love to feed my mind with what if’s?, through stories.

11/28/10

O Gatinho Morto.

O Gatinho Morto Eu não tive outra alternativa, senão matar o gato. Eu estava com 10 anos na época e já sabia decifrar o certo do errado. Porem, eu não sei explicar detalhadamente, o que passou pela minha cabeça: Eu peguei um dos gatinhos e levei pra minha missão Meu tio tinha um pequeno mercado de secos e molhados, e eu vim da capital pra ficar uns dias com a família dele. Minha tia só não gostava de gatos dentro de casa. Um certo dia, o Lúcio perguntou se meu tio queria uma gata. Lúcio morava na cidade, e tinha uma gata que gostaria de se desfazer. Meu tio gostou da idéia de te-la na vendinha, pois ele usava ratoeiras pra pegar os ratos que visitavam o mercado no meio da noite. A gata não tinha nome, e sem nome ela ficou. Era referida como “a Gata”. A Gata logo se adaptou com o local, e era bem tratada com pedaços de carne crua todos os dias. Meu tio disse que se desse carne crua ela não iria comer outra coisa. E assim ela era sustentada. Nas manhas, meu tio abria o frigorifico e cortava um bife em fatias pequenas e jogava em direção a Gata. Em principio, todas as manhas havia um presente para o meu tio na porta do depósito. Um rato morto! A Gata dormia durante o dia, e jamais tocou em qualquer comida deixada no mercado. Ela não subia sobre o balcão, e era muito comportada. Meu tio deixava pedaços de outras iguarias e a Gata nem tocava. E assim, a Gata ganhou fama dos fregueses, que sabiam que era uma gata que protegia o local e somente comia carne crua. A Gata ficava prenha o tempo todo. Ganhava gatos de todas as cores, e usava um espaço abaixo do assoalho como seu ninho de proteção. Quando os gatos subiam, já crescidos, eles ficavam dentro de uma caixa de papelão ate desmamarem, e eram logo adotados pelos fregueses que ali visitavam. Numa ninhada, a qual eu presenciei, um gatinho veio com a metade da perna traseira mal formada. Havia somente um pedaço de osso, que não estava cicatrizando. Um dos fregueses disse que a própria mãe comeu. Outros disseram que poderia ter sido outro gato. Enfim, ninguém iria adotar este gato, e eu logo pensei em destruí-lo. Eu não falei pra ninguém o que me ocorreu, e numa oportunidade eu peguei o gatinho pela perna traseira, aquela que ainda existia, e levei-o pertinho do rio, aonde havia uma parede, e pela calda do gato eu bati com a cabeça dele na parede duas vezes, e vi que não seria fácil matar o gato. Eu não tinha força suficiente para criar um impacto fatal. Então eu joguei o gato de uma altura de us 50 metros e ele caiu no rio, no meio da água e entre as pedras. No momento me deu um medo. Senti um remorso, e olhei para o rio pensando que ele já estava morto, e vi ele se movendo pra fora da água Eu sai correndo, como se nada tivesse acontecido, em direção oposta ao gato, e depois de alguns dias este sentimento de culpa foi se apagando de minha mente. Ninguém perguntou sobre este gato, como também ninguém da família do meu tio se interessou em saber se ele morreu ou se estava vivo, ou se ainda existia. Na verdade, ninguém da família do meu tio contava quantos gatinhos havia nem pra onde eles iam. Uma vez desmamados, eles eram pra serem soltos ou adotados. Por falar neles serem soltos, houve um evento com uma ninhada de gatos que não sai de minha cabeça, e tem me marcado com a mesma intensidade de remorsos de quando eu tentei matar o gato que não tinha uma perna. O gatinho solto Numa outra ocasião, pertinho do verão, a Gata ganha outra ninhada. Numa quinta feira os gatos desmamados decidem subir sobre o assoalho e se aventurarem pelos corredores do mercado. Minha tia, que estava encarregada do mercado naquele dia, havia decidido que todos nós iriamos passar o final de semana na casa de praia, numa outra cidade. Assim sendo, ela não iria permitir que os gatinhos ficassem todos presos dentro da vendinha. A idéia de mata-los nunca ocorreu pela cabeça dela, mas eu logo senti o remorso daquilo que eu havia feito, e logo tentei tirar da cabeça aquele pensamento. Minha tia decidiu que levássemos eles pra praia e lá doaríamos todos eles pra quem os quisesse Este foi um ato muito humano da parte dela, e assim procedemos em colocar os gatinhos dentro de um saco de linhagem e leva-los pra casa de praia. Assim que chegamos, já anoitecendo, eu e meus dois primos fomos direto para o saco de gatos, e decidimos o que iriamos fazer. Enquanto minha tia e minhas primas estavam ocupadas com a limpeza da casa, e a organização dos mantimentos que haviam sido levados, não se deram conta dos gatinhos. Na verdade minhas primas não gostavam de gatos. Elas também toleravam, mas jamais aceitariam algum gato dentro de casa. Algo que deve ter vindo de minha tia. Estando todos eles (os adultos) dentro de casa ocupados, havia campo aberto pra nós fazermos a nossa malandragem. E assim pegamos o saco de gatos, no qual os gatinhos estavam quietinhos, sem fazer barulho, e colocamos nas costas. Logo, na primeira esquina, tinha uma casa com as luzes acesa, e na parte de trás haviam varias pessoas sentadas ao redor da mesa. Um senhor de meia idade cuidava do grill que assava uma grande variedade de carnes, pelo cheiro que soltava. Em sua mão ele tinha uma espátula, e na outra um copo de cerveja. Um rádio toca-discos tocava a musica, “Eu sou nuvem passageira” num volume pra quem estivesse perto escutasse. Havia na casa varias outras pessoas conversando alto, sem se incomodar com a melodia que ouviam, também com um copo de caipirinha entre elas bebendo um golinho de cada vez, e passando o copo uma para outra num circulo. Eu achava engraçado esta maneira de beber aonde todos colocavam a boca no mesmo copo e iam passando germes de um para o outro. Não pensei nisso tudo na época, pois nem eu imaginava que isso existisse direito. Mas as lembranças que tenho deste dia me faz rir desta observação que tive. Havia algumas crianças correndo no quintal, e eu senti uma vontade de estar ali, correndo e brincando com eles. Meu primo disse que não deveríamos interrompe-los, e que deveríamos proceder nossa caminhada enquanto ainda era cedo. E assim seguimos, até que na mesma casa eu notei que a janela da frente estava aberta. Havia um muro na frente da casa, mas pelo lado de fora podia se ver um quarto com luz acesa e ninguém por perto. Eu peguei um gatinho e pulei o muro e soltei por cima da janela. O gato logo saiu miando em direção as crianças Uma menina pegou o gatinho no colo e começou a brincar, e logo a conversa se tornou sobre o gato que apareceu. Saímos e prosseguimos fazendo a mesma coisa em varias casas, e dentro de uma hora estávamos de volta em casa. Meu tio já estava perto da assadeira de carne, preparando o fogo pra assar uma carne fresca pra família toda. Minha tia e primas estavam ocupadas cozinhando, enquanto bebiam um sambinha, (uma bebida feita com cachaça, coca-cola e gelo.) No outro dia sem que ninguém perguntasse eu logo falei que já havíamos achado lar para todos os gatinhos. E prossegui contando a historia pra todos. Minha tia achou engraçado, e perguntou se eles viram, enquanto ninguém mais deu atenção ao destino dos gatos. Enquanto estávamos na casa de praia, houve um evento que permanece vívido em minha cabeça, mas não tem mais nada haver com os gatinhos nem com a Gata. A vida continuou para o meu tio e sua família, e eu logo depois destas duas semanas fui embora pra capital aonde eu morava com minha mãe solteira.