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My name is Milton and I am a reader. I love to feed my mind with what if’s?, through stories.

7/12/13

A Enchente de 1971 em Lauro Muller Santa Catarina Brasil


A Enchente de 1971 em Lauro Muller Santa Catarina Brasil

By Milton Laene Araujo

Este texto foi escrito num teclado Americano, sem  alingua portuguesa pra ajudar. As regras da lingua foram todas assassinadas neste texto, e nao existe cedilha como tambem o tio. Leia como se fosse uma carta de mim pra voce!

Dia 15 de Fevereiro de 1971 era um desses dia de verao,  o tempo tomou uma colocaraco acinzentada. Soprava uma briza quente, e ligeiramente umida, enquanto a familia Araujo sentava a mesa para jantar as sete horas da noite desta Sexta Feira.

A serra do Rio do Rastro estava totalmente coberta de nuvens, e mostrava sinal de uma trovoada tropical atingindo a area. Em menos de quinze minutos durante o jantar, os Araujos foram interrompidos pela falta de energia, acompanhada de trovoes e relampagos.

“Salete, por favor, acenda uma vela pra nos.” Falou Angelo Araujo enquanto todos escutavam o barulho da chuva forte que batia no telhado.

“Ja esta na mao, seu Angelin.”

E assim a vela foi acesa e a familia resumiu seu jantar.

A familia Araujo residia num predio de 2 andares, num lote situado a Rua Orleans, em frente ao Grupo Escolar Visconde de Taunay, e diretamente dando costas ao Rio tubarao. A cozinha era situada no segundo andar, e havia na cozinha uma grande janela com uma vista completa, nao so dos fundos do predio, como tambem do Rio Tubaraoe o outro lado do predio.

Juntamente com os trovoes e relampagos era possivel se obter uma claridade enorme na cidade, e esta era a unica luz observavel durante esta noite . Num desses flashes ou clarao, Marina Araujo se levanta da mesa e vai em direcao a janela para observar a chuva. Todos continuavam sentados a mesa do jantar, e nao havia preocupacao alguma com a chuva a principio, mas uma vez que um relampago clariou o rio, Marina ficou abismada com o que ela viu.

“Meu Deus, ate parece um mar.” Marina falou fazendo com que todos corressem ate a janela em vao. Nao foi possivel ver nada, senao a forca da chuva nos vidros da janela.

“Se Sao Pedro riscar o fosforo denovo quem sabe a gente vai ver.” Falou Mario Araujo pra ninguem em particular, mas todos que estavam na cozinha entenderam que ele se referia ao clarao. Mario tinha 16 anos. Angelo e Milton, entao copiaram Mario, e repetiam sempre: "Risqué o Fosforo Sao Pedro, a gente quer ver."

Em seguida houve relampagos um atras do outro, e durante a continuidade do clarao todos tomaram postos diferentes pra ver a chuva.

Angelo (Angelin) levanta-se de seu lugar a mesa e se junta a Marina e Mario para observar o rio e a estrada que era adjunta ao rio.

Goretti  19, e Margaret  13, ambas filhas do casal, se dirigiram ao quarto para observar o grupo atravez da janela da frente do predio. Milton and Angelo Junior se dirigiram para a frente da casa, mas o vento era intenso e nao foi possivel abrir a porta da cozinha, qual dava acesso a uma sacada com uma vista boa da Serra.

“Meu Deus Marina, olhe la, parece que aquele carro do outro lado nao consegue pegar.” Falou Angelin fazendo com que todos se dirigissem a mesma janela e observassem o que ele havia visto.

“Olhe la, aquele carro esta com dificuldades. Esta com agua no nivel da porta...ate dentro do carro.”

“Pois eh,  olha so o motorista esta nervoso. Tem mais gente dentro do carro.”

"Olha, O carro esta cheio de gente. Eles parecem desesperados."

“Nao e agua do rio... olhem, e agua da chuva mesmo que formou um mar do outro lado.” Disse Mario todo excitado.

“Nossa, ta uma chuvarada la fora. O esgoto nao esta dando conta, esta entrando agua ate na calcada na frente do predio.” Falou Goretti enquanto pedia Milton e angelo que se acalmassem.

“Eu vi, ta chovendo de fazer copinhos.” Falou angelo Junior se referindo ao formato do respingo da agua no solo.”

“Ai, olha la, ele esta com problemas...ele nao conseguiu fazer o carro funcionar no meio dagua. Vou correr la pra ajudar ele.” Falou Angelin

Ninguem ficou espantado no momento. Angelin havia recentemente comprado uma camionete Ford 1970, e  o fato de ajudar alguem nao era novidades na familia. Ele nao encontrou nenhum obstaculo, apenas o olhar de Marina que revelava que ele nao deveria ir, pois estava chovendo muito, mas ao mesmo tempo ela estava preocupada tambem com a familia ilhada dentro de um carro sem poder sair.

Angelin desce as escadas, embarca na camionete  e segue sozinho em direcao ao outro lado do rio passando pela praca Henrique lage. Uma vez do outro lado ele percebe que o carro que ele foi socorrer sair por si proprio do perigo. Nao havia mais necessidade de ajudar.  Angelin faz a volta na camionete e na escuridao os farois iluminaram uma casa adjacente ao predio do Sabido com umas pessoas pedindo socorro A casa de Irene. Imediatamente ele apanha duas senhoras que estao com medo do rio e da chuva, pois o rio estava crescendo. Foi neste momento que Angelim deciciu entrar dentro da casa destas senhoras e pegar um senhor de idade que nao queria sair de casa. Ele consegue depositar esta familia dentro do Predio do Sabino, que no momento estava tranquilo. Elas lhe agradeceram  ele entao decidiu voltar pra casa. Somente depois de ter entrado no carro ele percebeu que elas haviam deixado um saco plastico com joias encima do banco. Angelin poe o pacote no porta-luvas. Durante a comocao de ajudar o pai delas sair de dentro do carro, elas esqueceram as joias no assento.  

Ao se dirigir em direcao ao posto de gasolina, qual dava esquina com a ponte, Angelin percebe que a agua estava muito forte e que sua camionete nao poderia atravessar a ponte  para voltar. Em seguida ele sente a camionete mover e o medo ali ocorre.

Neste meio tempo, ou seja, um minuto depois de Angelin sair de casa, Mario observa que o carro que estava em perigo agora esta sendo socorrido por alguem. Ele logo decide que vai atras do pai pra avisar que nao era necessario. Porem, quando ele desce as escadas, ele percebe que o pai ja estava a caminho, e resolve correr atras, desta vez com intencao de ver com seus proprios olhos o que se passava. Mario Faz o trajeto completo, passa a ponte com aguas furiosas por baixo, pensando em pegar uma carona devolta com o pai. Porem nao houve tempo para Mario. Uma vez do outro lado ele vai em direcao ao predio do Sabino, aonde varias pessoas se encontravam.  

A chuva continuava, agora mais forte do que nunca, e o rio soltava um cheiro de barro fresco, umido que somente presente uma pessoa pode distinguir este cheiro. E um cheiro de devastamento.

Mario, para se escapar da correnteza, sobe as escadas do predio e fica la dentro, com varias familias. La todos oravam e pediam a Deus que protegessem eles.

O Predio do Sabino era uma construcao solida, construido na decada de 50, se localizava na parte mais nobre da cidade. Foi construido adjacente ao Rio, porem uns seis metros acima do nivel do rio. Neste predio funcionava uma churrascaria, a rodoviaria e um posto de gasolina. O ultimo andar servia de residencias, e nestas residencias se encontravam mais ou menos umas 100 pessoas. Havia residentes, transientes, e tambem os que frequentavam o andar debaixo.

Angelin no meio do susto,  deixa a camionete com os farois acesos e sai pela janela do lado do passageiro, e sobe para o top da camionete. A agua estava movendo a camionete em direcao ao posto de gasolina, e ele percebeu uma oportunidade de subir acima do posto, numa lage. Neste momento, ele percebe que a camionete estava sendo levada em direcao ao meio do rio. Ele pega as chaves e joga acima do banco, e se direcionou a parede do predio. Logo que ele alcanca uma janela, ele percebe a loja locatelli ser invadida por agua, com as portas se abrindo e levando as mercadorias. Ele observa chapeus boiando, e logo o posto de gasolina se desintegrando pela agua. Ele passa por esta janela pequena, por uma ajuda divina, pois esta janela nao caberia uma pessoa.

Isso lhe deixa muito emocionado, pois enquanto em meio da luta de passar pela janela, o solo desaparece e ele se ve dentro do predio. Nada ao redor... A camionete se foi, o posto e a loja inteira desapareceram de sua vista. Ao seu lado, havia uma parede quebrada pela fortaleza da corrente de agua e tambem os entulhos que viam de toda parte. Havia uma certa calmaria naquela agua em referencia ao centro do rio, e ele percebe que o Clube Cruz de Malta nao mais existia, e tudo parecia um mar revoltado. Observando a calmaria perto de si, durante um relampago ele observa um corpo boiando, semi morto. Angelin resolve apanhar este corpo pelos bracos.

“Meu Deus voce aqui rapaz.”

“Sim eu estava no Clube e o Clube foi levado inteirinho. Eu nao sei como vim parar aqui.”

Tratava-se de Gil Ivo Losso Filho – O Gilzinho filho do prefeito, 18 anos de idade.

Marina esta aos grito dentro de casa. O marido nao retorna e o filho foi atras. Todo mundo fica com medo dentro de casa. Margaret desce as escadas pra ver se o pai ja estava devolta. Goretti estava na janela escutando o que se falava na parte debaixo do predio. A preocupacao de Goretti era mais com o carnaval, porem nao havia mais motivos pra se preocupar. Nao havia mais eletricidade. ELa ja estava mais do que  conformada com o Carnaval, ou a ausencia dele.

“Vilmar,(um tal de Gamba) voce viu o pai?” Falou Margaret com voz de inocente

“Ele esta deste lado ou do outro  lado?”

“Ele foi pro outro lado.” Falou Margaret "e o Mario tambem foi atras dele"

“Se ele estava do lado de la, ele ja foi. O Rio levou tudo, ate o clube, a casa do Locatelli, tudo. Teu pai ja deve estar la na MADRE.” Falou Vilmar nao percebendo que ele estava falando com uma crianca.

Margaret entra em casa aos panicos. Logo diz que o Vilmar falou que todo mundo do outro lado foi levado. Ela comeca a chorar, e com ela todo mundo ao redor.

Foi uma loucura! Margaret sempre foi apaixonada pelo pai, e nao imaginava a vida sem ele.

Junior e Milton estavam despreocupados, pois havia emocao no ar, mas ao ver Margaret aos prantos, eles logo comecam a chorar, mas sem saber ao certo porque.

Durante a chuva, varias pessoas que ouviram a noticia da enchente acontecendo vieram para a casa do Angelin, sem saber que o Angelin estava do outro lado. O predio tinha uma vista boa para o rio e tinha uma sacada no segundo andar aonde se podia presenciar tudo.

Ali na sacada, juntamente com outras pessoas, Marina observa a camionete sendo levada pelo rio, com os farois acesos, boiando. Ela ve Angelin dentro da camionete tentando manobrar, no meio do rio, ate que a camionete desaparece na agua. Nao so ela presencia isso, mas Angelo Junior, Milton e tambem Margaret. Todos confirmaram ver o pai tentando dirigir dentro dagua.

Ai sim, a coisa ficou doida. O carro estava boiando, encima da agua, como se alguem tivesse manobrando.

"O pai ta la dentro, meu Deus!" Falou Milton...deparando com a realidade da coisa.

Para Milton 9, nada fazia sentido. Eram tantas informacoes, vindo de todas as pessoas ao redor. Junior, 10, se mostrava mais preocupado e observava o rio logo abaixo do predio.

Era dificil saber o que estava acontecendo. O que estava ali, desaparecia num piscar de olhos, e somente com a luz dos relampagos era possivel ver a calamidade.

Marina percebe o rio levar o lote atras de sua residencia. Seu patrimonio. Uma casa que funcionava como uma carneacao de porco, que era un dos bens da familia, havia sido levada por completo, ou estava prestes a ser levado, e o rio continuava a subir. Marina nao disse nada a ninguem que o rio ja havia levado a casa de tras.

“E melhor pegarmos as coisas que precisamos para dois dias e vamos sair daqui agora.”

Tia Leda e Tio Walmor Keller estavam ali esperando para  acompanhar todos ate a casa deles que nao ficava perto do Rio.

Num piscar de olhos Goretti ja havia recolhido varios pertences para todo mundo e colocado numa mala. Margaret assumiu a lideranca com os meninos, e deixaram o predio sem se importar se as pessoas queriam ficar ali ou nao.

Na casa da Tia Leda havia quatro quartos grandes e lugar pra todos dormirem. Angelo Jr. e Milton se juntaram com Gilson,13 e foram para um quarto, conversar sobre a enchente, e contar pro Gilson o que era sabido pela cabeca deles ate entao.

Marina, Leda e Valmor conversavam na cozinha, a luz de vela, esperando a chuva passar para poder dar uma olhada no que restou. Marina nao se conformava em perder o marido de um filho numa so noite, e seus olhos enchiam de lagrimas so em pensar.

Salete, a ajudante, juntamente com Margaret e Goretti ocuparam um quarto mas nao dormiram. A goretti estava em choque, e nao dava muita atencao aos comentarios, pois ela nao queria ouvir besteiras, como a que o Vilmar falou pra Margaret, que piorou mais, quando Margaret escutou sobre a morte de um amigo de escola – O Dario Locatelli. As noticias de mortes  nao eram confirmadas, e todos assumiam o pior.

Enfim, antes do amanhecer ja havia boatos de quem poderia vir a morrer por frequentar o Clube jogando cartas e tal. Afinal era uma noite de carnival, que nao havia nem comecado, mas as pessoas nao sabiam, ou nao imaginavam uma construcao enorme ser removida.

“Nossa, era pra ter um carnaval hoje.” Margaret repetia o que escutava na rua

“Nao, eles ja haviam cancelado o carnaval.” Falou Goretti tentando acalmar a todos, e ao mesmo tempo sem saber o que o futuro esperava dela.

Angelin, agora com um rapaz para levar ao segundo andar, quebra uma janela com um litro de conhaque do bar, e eles passam por uma pequena lage para a area aonde se concentravam todas as pessoas, inclusive Pedro Paulo Flor.

Eram todo tipo de gente dentro deste predio. Nao havia limites qual apartamento se entrava. Todos estavam rezando em voz alta, com velas acesas pedindo para que a chuva paresse e que Deus tivesse piedade deles. A Familia Bunn, recentemente chegado na cidade, tiveram que enfrentar algo desta magnetude. Sua casa foi aberta para todos que ali estavam presentes no predio. Alecio Bunn nao se conformava com o que via. O predio balancando... O que se pode fazer para se salvar? Lhe ocorreu a ideia de ate se jogar ou entao usar um colchao ou uma cama...as circunstancias eram precarias. Mas esta ideia logo fugiu de sua cabeca, mas todos imaginavam a mesma coisa.

Angelin e Gilzinho chegam ao terceiro andar, e no meio da mutidao ele ve o Mario, sentado no canto, com cara de medo e espanto.

“Tu aqui... Oh Meu Deus...O que tu ta fazendo aqui rapaz?

“Eu vim pra avisar o senhor que nao precisava mais ajuda, e queria pegar uma carona devolta.”

“Ainda bem que tu estais salvo.”

“Pai, o senhor ta sangrando por todos os lados.”

Neste momento Angelin nao se contem e comeca a chorar, como um menino.

As pessoas ao redor levaram ele ate uma ala aonde se fazia curativos, colocavam bandaids, mercurio ou iodo nos ferimentos. Algo rapido, pois todo mundo queria ajudar.

Angelin teve ferimentos no pieto, nas costas, e nas pernas. A janela que ele passou para entrar no predio era muito estreita e os vidros ficaram ali, para fazer o estrago.
Somente depois de um dia ele percebeu que era impossivel ter passado por tal janela.

O choro nao era de tristeza nem de solidao, e muito menos de medo. Mas um choro de agradecimento por ter conseguido estar ali, com todo mundo depois de ter passado pelo o que passou. De ver o rio com a cara do diabo, engolindo o que tivesse na frente, com uma correnteza de levar tudo o que tiver pelo caminho. O chouro de ver o predio ilhado... E este chouro se transforma em medo quando ele percebe que o predio aonde ele esta esta balancando. A forca da agua fazia com que o predio tremesse, e todos entao rezavam ainda mais alto, com mais fe.

Angelin pega um copo de agua para beber, e deixa o resto sobre a mesa. Neste instante um forte tremor faz com que a agua respingue fora do copo...e isso lhe traumatizou. O medo do fim da vida ser tao cruel ao ponto deles serem carregados pelas aguas. Ele adormeceu por alguns minutos .

La ele foi acordado por Irene, uma das mocas da familia que ele socorreu. A casa deles havia sido levada, juntamente com uma oficina do Kintino e os carros que estavam la para consertar. A area ao redor do predio foi decimada.

“Obrigado por nos salvar Seu Angelin.”

“Ninguem ta salvo ainda.”

“Nos estamos sim seu Angelin. O senhor salvou ate o pai. A nossa casa se foi, nem quero mais olhar pela janela...falou Irema.”(Jurema), assim conhecida.

Neste momento eles conversam sobre a camionete, as joias e tambem o revolver do Angelin que estava no porta luvas.

Angelin sempre teve um revolver no porta luvas do carro, porem nunca usou. Ao ponto de esquecer tudo dentro do carro. O rio havia levado tudo.

Ao amanhecer...por volta das 4 e meia da manha todos estavam dormindo, esceto Marina, Leda e Valmor, que passaram a noite na rua, a beira do rio que aos poucos voltava ao seu lugar. Com lanternas eles todos, os com idade, se juntavam na frente do Hotel ponto Chick esperando comunicacao do outro lado do rio ou escutando as conversas sobre os desaparecidos.

Demanha todos sabiam quem estava desaparecido, pois havia membros de familias aflitos, perguntando varias vezes a todos os que estavam presentes se eles haviam visto fulano ou ciclano. A conta estava acima de 15.

Quando Gilson, Milton e Angelo acordaram, ja por volta das 10 da manha a noticia era de que alguem lancou uma corda para o outro lado do rio, e atravez desta corda eles estavam se comunicando. As aguas tinham baixado, porem levado a cabeceira da ponte, a cabeceira que fica ao lado do posto de gasolina, deixando uma area descoberta e sem saida.

Algum genio lembrou de colocar uma lata na corda...  e assim transportaram mensagens de quem estava no predio e quem nao estava.

A Dona Vilma gritava, pois o Aurelio estava do outro lado.

Este era o momento mais triste da enchente. O momento em que a incerteza toma conta da cabeca, e a angustia se envolve na pessoa que promete o mundo para ver seu marido, pai ou irmao vivo.

O Nome do Angelin e do Mario foi um dos primeiros nomes a ser passado, e confirmado que eles estavam vivos, e isso fez com que Marina se preocupasse com os demais.

A Policia Militar foi acionada e demanha, por volta das 11 horas eles ja haviam construido uma pontezinha de madeira para os que que se salvaram puder retornar as suas casas.

A Radio Cruz de Malta anunciava a chegada de Helicopteros, porem o radialista se confundiu e falou enciclopedia.

O Cine Lauro Muller sofreu um buraco enorme do lado esquerdo (margem do rio, e frente ao Rio Bonito, qual encontrava o Rio Tubarao naquela area. Tudo o que havia dentro do cinema do Seu Ari Teixeira havia sido destruido.
A casa dos Lossos estava prestes a ser levada, mas foi protegida pelo Cinema.

A agua era tao forte que atingiu a vila operaria, pegando todos desprevenidos. A Vila operaria central, localizada na rua Tubarao teve agua atcima da janela, e todas as pessoas perderam os mantimentos, roupas, aparelhos domesticos, porem os que estavam em casa se salvaram a tempo de corer para um lugar mais alto na cidade ou algum parente.

A Familia Curcio residia na Vila, juntamente com as Familias Purificacao, Ramos, Miguel, etc. Porem, a agua atingiu ate a Rua Orleans, aonde se concetrava ouma outra fila grande de casas. As pessoas nestes locais sofreram muito e ate hoje estao traumatizadas.
 
Para Milton isso era algo novo, ou um dia de aventura. Logo em seguida Gilson, Milton e Junior vao ate a praca, e percebem que nao existe mais praca. Tudo foi embora. Varios policiais ajudando pessoas atravessarem a ponte de madeira (um de cada vez), e a vontade de poder ver o outro lado englobou a cabeca dos meninos.

“Vamos tentar pasar pra la?” Falou Junior para Milton and Gilson

“Sera que pode?” Falou Gilson, tambem curioso.

“Claro que pode! A gente diz que mora la ue.” Falou milton tentando convencer os dois mais velhos de que seria bom estar do outro lado.

E assim foi feito. Os tres pegaram a fila e colocaram o Milton na frente. Ao chegar perto do policial Milton sentiu medo. So que era tarde demais.

“Quem sao voces, o que e que voces querem?” Pergunta o policial olhando Gilson e Junior e tambem o muleque em sua frente.

“Nos moramos do outro lado e queremos voltar.” Falou Milton ao policial

“Nosso pai esta la!” Falou Junior

O policial observou que ele estava parando a fila, e resolveu deixar todos passarem, porem ele olhou nos olhos de milton e disse.

“Estou te observando. Se voce tentar voltar eu nao vou te deixar passar.”

“Eu nao vou querer voltar, oras bolas”.

 “Esta bem, entao, passem.”

 

Do outro lado havia muita lama. O Sol estava quente, como se nada tivesse acontecido na noite anterior, porem tudo estava diferente. Havia varias pessoas juntando o que encontrava na lama. Ate latas de leite em po eram retiradas da lama e colocadas em sacos ou fronhas. Pessoas do bairro arizona que desceram para ver os estragos tambem presenciaram mantimentos da loja locatelly estraviados pela estrada. Uns pegavam o que queriam enquanto outros so olhavam discordando.

Milton, Gilson e Junior nao pegaram nada. Milton estava observando a fila de pessoas passando, e o medo lhe ocorreu.

Neste meio tempo, Angelo e Mario foram levados ao hospital para curativos e ja estavam contando cada qual a sua historia. Angelo sempre chorava ao comentar, e em seu olhar se percebia um aumento em fe e  intervencao divina.

“Vamos voltar? Nao quero mais ficar aqui.” Falou Milton

“Tu ta com medo ne?” Falou Gilson

“To. Ele nao vai me deixar passar.  O que eu faco?”

“Que nada, ele nem vai lembrar de voce.” Falou Gilson com ar de certeza que fez com que Milton aproiveitasse mais e observasse a vista que a enchente deixou.

Na hora de voltar, foi decidido que os dois, Gilson e Junior iriam na frente de Milton, assim seria mais disfarcado. Esta foi a ideia do Junior.

O policial que controlava era outro, e nao deu muita atencao enquanto Milton, Gilson e Junior estavam na fila. A preocupacao do policial era que todos ficam em ordem. A fila era grande, pois haviam pessoas que realmente queriam visitar amigos que estavam perdidos. Neste meio tempo, enquanto na fila Milton observa uma moca que fica tonta encima da ponte. Ela bate nos arames que suportam os lados da ponte e cai no rio. A moca e levada pela conrrenteza, porem ela foi salva pelo grupo militar antes de chegar na vila. O corpo estava encima da agua, e ela estava sentada na agua e sendo carregada, enquanto olhando para os lados com medo, ate que perto da vila operaria ela e socorrida, la Deus sabe como.

Isso foi traumatizante para todos. A Pontezinha foi interditada ate que a policia militar percebeu nenhum danos, e a passagem entao se resumiu.

Gilson sendo o primeiro da fila, seguido por Junior e Milton seguiam o destino de casa sobre a pontezinha. Nao houve nenhum problema com o policial ate que, na hora de sair da ponte de madeira, antes de entrar sobre a ponte de material, ou melhor, o que restou desta ponte, o policial poe sua mao na barriga de Milton e diz:

“Voce nao pode passar.”

Neste meio tempo Gilson e Junior ja estao longe. Milton fica desesperado e decide enfrentar o policial.

“Eu vou passar sim! Eu moro aqui.”

“Nao. Se prepare pra voltar...”

Milton ao perceber que estava sozinho, usa sua forca contra o braco do policial e consegue sair em direcao ao hotel, aonde varios curiosos estavam observando.

“Olha, nao volta mais aqui viu?”

“Eu nao vou voltar.”

E assim Milton retorna e decide nao mais tentar passar a ponte. Em questao de horas a policia militar construiu uma ponte de madeira que podia suportar carros, e assim a vigilancia da ponte nao foi mais necessaria.

Esta ponte provisoria ficou ali por mais de 3 anos.

 

Voltando ao passdo um pouquinho...

 

Em 1870, foram descobertas jazidas de carvão no sul de Santa Catarina, nas vertentes do rio Tubarão. Estudos realizados na época apontavam Imbituba como o local ideal para a construção de um porto para a movimentação desse minério.

Ao mesmo tempo, foi iniciada a construção da estrada de ferro Dona Tereza Cristina que ligaria o Porto - ainda inexistente - às minas de carvão.Mas as obras de construção do Porto só se efetivaram mesmo a partir de 1919, com o pioneirismo do empresário carioca Henrique Lage.A obra foi iniciada com a construção do molhe de proteção, dos escritórios e dos armazéns.Na época, Henrique Lage obteve ajuda do Engº. Álvaro Monteiro de Barros Catão,então Diretor da Estrada de Ferro Dona Tereza Cristina. Este iniciou um processo de modernização das instalações para embarque mecanizado de carvão. Catão foi responsável também por várias outras obras no porto, entre elas a construção de um quebra-mar para a proteção das instalações.

Em 03/11/1922 foi criada a CDI - Companhia Docas de Imbituba, tendo Álvaro Catão como diretor. Todos os navios de carga ou passageiros da Companhia Nacional de Navegação Costeira passaram a fazer escala no Porto de Imbituba.

A redução das alíquotas de importação e a retirada do subsídio do carvão, em 1990, acarretou o colapso da indústria do carvão catarinense. Nesta nova conjuntura, o Porto de Imbituba se viu obrigado a se transformar de mero terminal exportador de carvão para um porto polivalente, com a movimentação de vários tipos de mercadorias.

Em 16 de junho de 1941, Henrique Lage, sente o agravamento do seu estado de saúde e solicita, através de circular, que os dirigentes das empresas prestem informações a Gabriella Besanzoni a respeito das atividades de cada uma delas, como também dêem conhecimento prévio de qualquer intenção de deliberações de vulto. Além disto, Lage pede a comunicação com antecedência da realização das assembléias e reuniões de diretoria, o que facilita a presença Besanzoni. No encerramento da correspondência, que conta com a assinatura de Pedro Brando como testemunha, o industrial escreve: “Agradecendo mais esta prova de lealdade que me prestam, subscrevo-me amigo muito grato”.

Lauro Muller se desenvolveu desde 1920, quando carvao foi explorado na area. Mesmo sem ter nome, ou ser referida como a cidade de Minas, era a unica cidade com energia eletrica para o funcionamento da empresa que daria vida a cidade e ao municipio. Assim, com a intervencao dos Ingleses e com a participacao de Henrique Lage, foi construido a estrada de ferro unindo Lauro Muller ao porto de Imbituba. A funcao da estrada de ferro era unicamente para transporte de carvao mineral para o porto, e assim ser exportado, consumido em capivari para uso local, e tambem como uma forma de rendimento para o estado.  Aos poucos foram adicionados vagoes publicos, e o trem levava gente pra Tubarao – ida e volta.

Entre as poucas cidades existente na epoca, Lauro Muller pertencia a comarca de Orleans. Mas com o desenvolvimento e a arrecadacao sendo suficiente para se manter, Lauro Muller recebe o nome em homenagem ao Governador que ajudou a fundar, Sr. Lauro Severiano Muller. E por volta dos anos 50 se torna um municipio.

O Municipio de Lauro Muller teve como primeiro prefeito o Sr. Isac Bertoncini. Ali, entao se formava uma elite de empregados da Empresa Barro Branco, sendo que a hierarquia dentro da empresa determinava os costrumes dentro da cidade. Os fundadores da empresa, ja entao engajados com o Sr. Henrique Lage, tinham investimentos com o carvao. Lauro Muller entao tinha energia eletrica, uma igreja recen costruida, totalmente catolica apostolica romana tinha os olhos para o futuro.

A empresa de carvao, muito interessada em futebol criaram o time Henrique Lage, um dos primeiros campos a usar energia eletrica com o mesmo nome. Os jogos poderiam ser efetuados a noite. O campo de futebol tinha arquibancadas, refletores e tambem um vestiario. Os jogadores eram importados de varias cidades, e eram adimitidos na empresa Barro Branco tambem pelo atletismo.  Assim se formava o time que venceria um campeonato Catarinense. Os jogadores eram desde peoes ate encarregados. Em campo nao havia alguma hierarquia.

Uma familia de irmaos se mudou para Lauro Muller, aonde todos eram atletas de futebol, e assim os Irmaos Curcios tiveram muita notabilidade e fizeram a sua parte para o desenvolvimento, nao somente da cidade e da Barro Branco, como tambem do time. Ate figurinhas de album foram feitas, e Archimedes Purificacao tinha a sua figurinha carimbada – Ou seja, uma das mais dificeis de se achar.  Os irmaos Curcios todos tiveram suas fotos publicadas.

Tudo era glorioso em Lauro Muller. As ruas, ate entao existentes, foram desenhadas de acordo com a hierarquia dos funcionarios. Alguns recebiam a casa gratis, e dependendo da profissao, uma vila inteira era criado para os funcionarios . Os que tinham cargos altos na Barro Branco moravam em ruas largas, bem pavimentadas, tipo a Rua Walter Veterli ou Dr. Valdir Cotrin.  As casas eram costruidas de material importado e tinha saneamento basico bem antes de muitas cidades maiores no paiz. Os que tinham cargos menores recebiam casas de acordo com seu salario, porem agua e energia tudo incluido. Lauro Muller atriu muita gente durante a decada de 60.

A praca Henrique Lage recebe um Clube para a sociedade Lauro Mullense, aonde a elite da Barro Branco  frequentava arduamente. O clube Cruz de Malta era frequentado pelas pessoas mais elegantes da cidade. Entre as Familias nobres se destacavam os youngs, os Bittencourts, os Riguetos, os Donedas, os Souzas, os Fernandes, etc... e tambem os engenheiros que ram subsitituidos e recebiam uma casa de moradia para usufruir.  Alem destes, haviam tambem a classe que prestava servicos aos moradores, como os comerciantes etc. Estes todos eram considerados semi- Elite.  A Empresa estava crescendo e a cidade se desenvolvendo. Henrique Lage decide entao construir um castelo, dos tipos que ele conheceu na Italia e Franca, e assim atravez de navios e portos importou os materiais e o Castelo ficou feito. Uns dizem que foi um presente para a sua namorada, depois mulher, Gabriela Besanzoni, porem nao sei por fato se ela alguma vez pisou os pes em Lauro Muller. O castelo ficou a disposicao de Henrique Lage, e com o passar dos tempos ficou nas Maos de Sebastiao Neto Campos. Hoje deve ser uma propriedade da Barro Branco, ou mudou de rumo, sei la, isso nao vem ao caso. .

Em 1950, aos 19 anos de idade, Angelo Araujo foi reconhecido por seu atletismo no futebol. O time do Sumare havia ficado campeao e Angelo havia feito o gol da vitoria. Embora Henrique Lage (o time), tenha perdido este campeonato, nao havia rivalidades. Angelo recebe uma proposta para trabalhar na Barro Branco. Logo em seguida decide se casar com Marina e assim o fazem. Depois de dois anos com a Barro Branco Angelo decide mudar para Rio Grande do Sul e trabalhar numa empresa Hidro-eletrica CE, que estava sendo fundada na area de Jacui. Por 13 anos ele fica afastado de Lauro Muller, e quando retorna em 1961, ele constroi um predio de dois andares e poe pra funcionar o Bar Lauro Mullense Taco de Ouro. O Unico bar com mesas de snoker e uma sorveteria. Foi um sucesso desde o principio. Por volta de 1970 Angelo decide mudar de negocios e troca o bar por um mercado de secos e molhados e abre uma carneacao de porcos, para abastefcer o mercado. Assim o bar ficou arrendado e a familia toda trabalhou no mercadinho Araujo. A camionete visitava a colonia todas as quintas para trazer produtos fresquinho para os moradores.

Nesta Epoca os residentes de Lauro Muller estavam vivendo momentos gloriosos. A empresa prometia estabilidade e, os empregados estavam contentes e acasalados. Havia a vila operaria que foi construida para alojamento das familias dos empregados de nivel medio. As casas tinham todas as amenidades necessarias, inclusive banheiros dentro e fora de casa. Embora construida tipo “Townhouses” ou emendadas, as casas serviam muito bem para os empregados, e a vila operaria ficou sendo uma famila. Atraia a cidade inteira.

E assim a cidade se dividia. A Elite por um lado, os comerciantes por outro e os operarios por outro. Era facil de saber quem era quem, e muito mais facil ainda haver unioes entre todo o povo.  A juventude Unida Lauro Mullense, conhecida como a JULM, foi criada pelos jovens, por volta dos anos 72, e consequentemente quebrou qualquer diferenca que pudesse haver entre classes. Todos  sentiram na pele a perda de vida e de uma sociedade, e com a ajuda da JULM foi construido um novo Clube numa area mais acima do nivel do rio. O Clube manteve sempre os costumes de outrora, com bailes de galas seis vezes por ano e continua assim ate hoje.
Mas voltando aos anos pre-enchente,  Lauro Muller se destacava no mapa como uma cidade importante, porem com a Barro Branco sendo dona de todas as terras era impossivel poder dar lugar a qualquer industria. E assim Lauro Muller cresceu ao redor de uma so empresa. E triste imaginar hoje Lauro Muller sem a Barro Branco, ou com a Barro Branco parada. Na verdade, ninguem imaginava isso. E intendivel uma so dona, pois trata-se de uma mina com jazidas de carvao e ninguem divide isso.

A enchente levou a vida de sete pessoas conhecidas na cidade. Entre elas o Sr. Manoel (Nelo) Cardoso, marido de Yolanda Cardoso. Seu Nelo me vem a cabeca porque ele era me dava “alo,” quando as sete da noite ele passava em frente ao bar em direcao ao Clube Cruz de Malta. O Sr.Manoel da Rosa, pai do meu amigo Francisco e Joana, tambem foi levado pelas aguas. Um rapaz chamado Vatoca, que se chama Walter Hotalsen Filho tambem foi levado pelas aguas enquanto etava no Clube Cruz de Malta.  Da familia locatelli morreram dois, pai e filho, sendo o Sr. Franquelino e o Filho Dario. O Marido de dona Korina, conhecido como Ze Hotalsen pai de minha amiga Elza e por ultimo o Gerson Riguetto (irmao do sorriso) tambem partiram. Houve tambem um falecimento na mina de carvao, mas este nao saberia dizer o nome.

Angelin Araujo conseguiu uma camionete emprestada por um dos colonos de Braco do Norte, e usou por sete meses depois da enchente, ate que comprou outra em 1972. 

E importante lembrar que antes dos anos 70 o padre era a principal autoridade na cidade. O Padre Hercilio nao so usou este privilegio, como fez com que todos o escutassem. Nao era permitido entrar na igreja de saia curta, e ele nao poupava ninguem de um sermao por estar com a bainha da saia sem encostar no chao quando ajoelhados. Ele seguia a lei e apresentava aos moradores. O Padre nao realizava casamento de alguem que fugia. Quero dizer, se voce tivesse dormido com o namorado, voce era proibido de casar na igreja de branco. O  povo adiquiriu um senso de moral muito baseado nos costumes da cidade,e impostos pela igreja sob a ordem do atual da epoca papa pio 12.  
 
A Sociedade do Cruz de Malta era composta por todos os que queriam participar. Como uma sociedade legal, organizada, tinha o objetivo de dar entretenimento ao povo. Os bailes sempre foram e continuam sendo de gala.

Logo depois da enchente a familia Araujo mudou se para uma parte alta da cidade. Durante a enchente de 1974 a familia Araujo ja havia deixado o predio, que ate entao esta intacto.

FIM


"Todos que vivenciaram este momento tem sua propria historia. Eu somente divide a minha, e estava com 9 anos na epoca. Nao sentia o que um adulto pode ter sentido. Apenas presenciei e agora estou dividindo. Um abraco."

Milton




 

 

Milton Laene Araujo